Mulher Gol

Por Marina Yamaoka, jornalista do Greenpeace, de Sawré Muybu

Corre de um lado para o outro sem tirar o olho da bola e é a única a calçar chuteiras. Mostra confiança em suas passadas firmes e chutes certeiros em direção ao gol. Entre cabeceadas, passes e gols, Marunha Kirixi Munduruku, sem dúvida alguma, se destaca entre as jogadoras de futebol que frequentam o campo da aldeia Sawré Muybu.

Todos os dias quando o sol começa a se por e depois de terem cumprido as tarefas do dia a dia – limpeza da casa, cozinhar, artesanato, entre outros - as mulheres Munduruku se encontram no campo, uma mistura de chão de terra batida com tufos de gramado. Por volta de cinco da tarde, Marunha já está chamando as amigas para que não se atrasem para o que é considerado um dos melhores momentos de diversão do dia: o tradicional futebol feminino das cinco.

Ela chega ao campo com as chuteiras na mão e senta em um dos bancos de madeira que são destinados à plateia – composta principalmente por seus filhos e alguns homens - para calçá-las. “Eu decidi comprar uma chuteira porque meus dedos já estavam todos quebrados”, ela diz rindo e mostrando os dedos avariados, mas bem cuidados, de esmalte cor de rosa.

As mulheres se alongam e formam uma fila para dividir os times. Alternadamente, uma por uma se direcionam para a esquerda e para a direita para que a divisão seja justa e para que haja um equilíbrio entre as “que são boas e as que são menos boas, mas que se esforçam”, como explica Marunha.

Além de jogadoras, elas também se revezam como técnicas e juízas., decidindo rapidamente quem cobra a lateral, o escanteio ou a falta.

O futebol faz parte da vida de Marunha desde seus 10 anos, quando começou a gostar de praticar o esporte. Tanta dedicação ao longo desses quatorze anos são notáveis para aqueles que assistem ao jogo, nem que seja por pouco tempo. A paixão pela bola é inegável e mesmo embaixo de um temporal ou na lama, as Munduruku não saem do campo. “A gente joga do mesmo jeito porque a gente realmente gosta”, diz Marunha. “Quando o time está completo são umas dezesseis meninas. Às vezes tem poucas, só oito, mas mesmo assim a gente joga“.

No ano passado, o time de futebol feminino da Sawré Muybu não ganhou nos jogos indígenas, mas muitas das meninas foram campeãs em outros esportes como na natação, na corrida de cinco quilômetros e, inclusive, no cântico e na pintura corporal. Foi dessa forma que a aldeia ganhou na pontuação geral e trouxe o troféu que, hoje, fica em uma estante na escola.

Não é só em campo que Marunha é corajosa e demonstra o espírito guerreiro do povo Munduruku. Durante o processo de auto-demarcação, ela participou cozinhando e registrando partes da atividade em vídeo como jornalista. “Para mim, foi muito importante ter essa experiência e eu entendi muitas coisas que não sabia. Na auto-demarcação, eu vi o esforço de cada um que enfrentou chuva, sol e lama, e que atravessou igarapé para lutar por nossa terra e não deixar que ela seja destruída. A aldeia é importante porque será dos nossos filhos e dos nossos netos. Se a barragem for construída, o que não quero, tudo será destruído.”

Futebol Sawré Muybu SalveOTapajos Tapajós Amazônia Amazon

A menina e a floresta

Por Marina Yamaoka, jornalista do Greenpeace, de Sawré Muybu

image

Rizela Munduruku, entre um mergulho e outro no igarapé, sorri e diz: “ei, pariwati (branco, na língua Munduruku), olha só, eu vou pular”. Assim que cai na água, ela sai nadando até onde as mulheres estão lavando roupa e logo que levanta, começa a se banhar com as outras crianças.

É um banho quase brincadeira. Rizela passa sabonete no corpo inteiro e nos cabelos e para se enxaguar entra novamente na água, fica completamente submersa e sai batendo as pernas, deixando um rastro branco da espuma misturado a minúsculas bolhas de ar. Quando coloca a cabeça para fora d’água, já está completamente enxaguada. Hora de subir novamente na ponte de madeira que liga as duas margens do igarapé e saltar na água.

Dessa vez, sai com a cara um pouco fechada e sobe a trilha em direção à aldeia Sawre Muybu. No meio do caminho, some no meio da mata e, de repente, volta com uns espinhos que tirou do caule de uma árvore que estava caída. Senta na beira do igarapé e começa a cutucar a sola do pé para tirar algo muito pequeno e preto que a machucou. Nem 10 segundos depois, já resolveu o problema, sozinha, e joga o espinho que usou como palito na mata. Volta a nadar.

Rizela e as outras crianças Munduruku são extremamente livres e independentes. Brincam na aldeia, na floresta e nos igarapés sem medo de se machucar ou sem precisar da supervisão constante dos pais ou de adultos. As crianças mais velhas cuidam das menores e dos bebês desde cedo e há uma noção de cuidado coletivo entre todos da aldeia.

image

Quando o sol não está tão quente é comum ver Rizela correndo livre com Guaxu, o macaco que está quase sempre em sua cabeça e é seu fiel escudeiro. Ao andar na mata, aponta plantas que têm usos diferentes como um pequeno mato que passaria despercebido, mas que é usado para coçar a orelha.

Ela caminha na floresta e vai contando o que estudou na escola recentemente, “temos aulas todos os dias, de manhã e de tarde, e eu aprendi a fazer a tabuada e estudei matemática”. De repente, ela aperta o passo e diz “se a gente não correr, a chuva vai pegar a gente”.

Em questão de poucos minutos, grossos pingos de chuva caem do céu que, há pouco, estava azul e aberto. Rizela dispara na frente com a ajuda de suas pernas compridas para alcançar sua casa antes que as nuvens encobertem completamente sua aldeia. “Tchau, pariwati, o seu caminho é por ali”, ela diz rindo e apontando para um caminho diferente do dela. Logo, desaparece.

Ajude a proteger o coração da Amazônia!

SavetheAmazon Munduruku SawreMuybu Munduruku SaoLuizdoTapajos Pet

O rio Jamanxim e seus encantos

Por Rômulo Batista, campaigner de Amazônia, de Sawré Muybu

image

Esta semana seguimos colocando placas semelhantes às utilizadas pelo governo brasileiro na demarcação oficial de terras indígenas nos limites da Terra Indígena Sawre Muybu junto ao povo Munduruku. Desta vez, subimos o rio Jamanxim desde sua foz até a cachoeira do Caí, local onde o governo planeja construir uma hidrelétrica como parte do Completo Hidrelétrico do Tapajós.

Três placas foram colocadas nos locais escolhidos pelos Munduruku ao longo do rio Jamanxim. Com sua habilidade ímpar para escalar, subiam nas árvores e afixavam as placas em um local alto para que ficassem bem visíveis e para que não pudessem ser encobertas por enchentes.

image

O rio Jamanxim é bem diferente do rio Tapajós, é mais estreito e possui diversas corredeiras e pedras ao longo de todo o seu leito. A cada curva do rio, éramos agraciados com uma cena mais bonita do que a que havíamos acabado de ver. Eram serras, pedrais, igarapés e praias, além de diversas Samaúmas – ou Sumaúmas, dependendo do local onde você vive na Amazônia. Bom, a dúvida sobre qual a grafia exata perde importância diante da imponência e do tamanho da árvore, considerada a mãe da floresta. Mesmo já tendo visto Samaúmas em outras viagens na Amazônia eu não deixo de ficar impressionado com sua beleza.

image

Foram 10 horas de viagem sinuosa não apenas pelas inúmeras curvas, mas, principalmente, para desviarmos de pedras e locais rasos no rio que os Munduruku conhecem como ninguém. A expressão “é preciso conhecer o caminho das pedras” fez mais sentido do que nunca para mim. No final de nossa viagem, uma chuva torrencial acompanhada de vento fez com todos ficássemos com frio e usamos o rio para nos aquecer, o mesmo rio que tem nos ajudado a aliviar o calor nesses dias.

Ajude a proteger o rio, o povo Munduruku e o coração da Amazônia.

Sawe!

plaqueamento autodemarcação demarcação terra indígena Sawré Muybu Munduruku Pará Norte Brasil Amazônia Rio Tapajós Jamanxim floresta greenpeace ativista

Arte na aldeia

Por Kaique Abrahão, Diálogo Direto do Greenpeace, de Sawré Muybu

image

Foto: Rogério Assis

Meu nome é Kaique Abrahão, trabalho no time de Diálogo Direto do Greenpeace e estou na aldeia Sawre Muybu como voluntário. De frente para o igarapé e sob uma árvore, eu escuto os sons da floresta e começo a escrever meu relato.

A floresta possui uma biodiversidade incrivelmente rica e aqui, na aldeia, tudo é encantador. Queria ressaltar algo que chamou a minha atenção enquanto artesão: a arte, a cultura, as pinturas, pulseiras, brincos, adornos para cabelo e colares que as mulheres indígenas produzem.

O que é mais utilizado como material para os artesanatos locais são coco, sementes, miçangas, madeira e penas. Cada peça produzida tem um significado diferente. Um colar com dente de onça, por exemplo, é usado pelos homens como forma de proteção em suas caçadas. Já colares com semente de milagreiro que são usados por crianças servem como ‘quebrante’.

Esta semana eu fiz um filtro dos sonhos e deixei próximo a minha rede, o que acabou despertando a curiosidade das mulheres e das crianças Munduruku. Como elas me pediram para ensiná-las a fazer o filtro, colhi cipó e organizei uma oficina com elas. Após o almoço, elas chegaram com uma bacia com sementes, penas e instrumentos que já usam em seus artesanatos.

image

Foto: Rogério Assis

Fiquei admirado com a agilidade com a qual aprenderam a fazer os filtros e a conexão que possuem com os elementos. Ao final da oficina, sorrisos brotaram nos rostos das mulheres Munduruku e trocamos olhares de gratidão.

image

Foto: Juliana Teixeira

Saí da oficina extremamente grato por ter compartilhado este momento com elas e por ter mostrado parte do que é a minha arte. Espero que, um dia, eu possa retornar à Terra Indígena Sawre Muybu já com suas terras oficialmente demarcadas e sem estar sob risco dos projetos das hidrelétricas que são planejadas ao longo do rio Tapajós e que ameaçam esta cultura milenar. É por isso que lutamos!

Sawe!

cultura troca semente artesanato arte filtro dos sonhos aprendizado Munduruku Sawré Muybu pará amazônia

Um aniversário especial

Por Rômulo Batista, campaigner de Amazônia, de Sawré Muybu

Na quarta-feira, 6 de julho, fez 12 dias que estou na aldeia Sawré Maybu, do povo Munduruku, do médio Tapajós (PA). Também foi o dia em que completei 37 anos. Confesso que os dias que tenho passado aqui estão sendo muito especiais e os presentes que tenho recebido são indescritíveis.

Não tenho como não ficar agradecido pela oportunidade de estar no coração da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo. E de não me sentir a pessoa mais sortuda do mundo por ter a oportunidade de participar de longas conversas com tantos caciques, lideranças, professores e sábios do povo Munduruku sobre seu modo de vida, sua luta, sua cosmologia e sua integração com a natureza.

image

O conhecimento, sabedoria e histórias do povo Munduruku são um exemplo para todos os pari wat (não indígenas) de respeito à vida, de convivência com a natureza e de busca de soluções coletivas para problemas e dúvidas.

Neste mesmo dia, eu também tive a oportunidade de conhecer a Bunny, uma das novas diretoras do Greenpeace Internacional e que começou na organização como ativista há trinta anos. Eu disse uma porque desde janeiro deste ano, a organização possui duas mulheres no comando. Em uma sociedade ainda tão machista quanto a brasileira e que ainda possui estigmas em relação à mulheres em posições de liderança, é inspirador ter Bunny como uma das pessoas à frente do Greenpeace. Para mim, isso também é um presente.

image

Eu ainda participei do plaqueamento da Terra Indígena Sawré Muybu com o cacique Juarez Saw, guerreiro que luta pelos direitos do povo Munduruku e pela demarcação de sua terra. Bunny, guerreira do arco íris, também participou do plaqueamento e acompanhamos os Munduruku fincando mais uma das placas que limitam seu território. A placa foi colocada ao pé de uma enorme Sumaúma, uma grande árvore imponente que também é chamada de ‘a mãe da floresta’.

Para mim, estar perto desta árvore foi um grande presente. Minha mãe que me perdoe, mas aquele carrinho de controle remoto que ganhei há mais de 30 anos perdeu o posto de melhor presente de aniversário da minha vida porque, ontem, foi sem dúvida um dia muito especial.

aniversário especial tapajós SalveOTapajos SavetheAmazon amazonia brasil amazon brazil pará bunny greenpeace munduruku cacique povo indígena indígenas terra indígena

Alegria e tristeza na Amazônia

Por Juliana Teixeira, voluntária do Greenpeace Brasil, de Sawré Maybu

image

Meu nome é Juliana e sou voluntária do grupo de São Paulo do Greenpeace. Sou bióloga, apaixonada pela mãe natureza e sem dúvida alguma foi um sonho realizado conhecer a Amazônia, seu clima quente, sua floresta úmida e sua biodiversidade incrível. Pude fotografar belos pores-do-sol e animais incríveis, como libélulas, aranhas, grilos gigantes, borboletas, porco do mato e tucanos. Vi até botos em um passeio de barco pelas ilhas do Rio Tapajós. Há histórias de que eles já ajudaram pessoas que morriam afogadas. Emocionante! Conheci também dois igarapés na região onde os Munduruku costumam se banhar e lavar roupas.

image

Esta foi a biodiversidade que vi. Mas sei que há muito mais escondido em meio a floresta. Não posso deixar de falar do belo anoitecer aqui no coração da Amazônia. Algo tão lindo que câmera alguma é capaz de registrar tamanha beleza: são imagens que vão ficar guardadas na minha memória. O céu fica inteiramente estrelado e vi até estrelas cadentes enquanto esperava o sono chegar em minha rede de descanso. Foi mágico! Durante a noite também pude apreciar o show dos vaga-lumes piscando por todo o acampamento e o som dos animais, como os grilos e os macacos Guariba. Intenso!

É incrível ver a conexão do povo Munduruku com a natureza, o conhecimento e a sabedoria que possuem em relação a floresta, o rio e seus animais. Mas ao mesmo tempo em que me sinto maravilhada com a beleza desse lugar, sua biodiversidade e sua cultura, me vem uma enorme tristeza em pensar que toda essa riqueza pode sumir se a hidrelétrica de São Luiz de Tapajós for construída. O desmatamento será imenso, grandes áreas serão alagadas e o povo Munduruku vai sofrer muito.

image

O Brasil tem um potencial energético incrível para fontes limpas e renováveis, como solar e eólica. Nosso país pode e deve investir nelas. Aqui no acampamento, por exemplo, a energia que usamos é alimentada por placas fotovoltaicas.

Os direitos dos povos indígenas e de comunidades tradicionais devem ser respeitados. Precisamos garantir que os enormes erros e impactos socioambientais que ocorreram com a hidrelétrica de Belo Monte não se repitam no Tapajós.

Aos mestres da Amazônia, com carinho

Por Heloísa Garcia, coordenadora do projeto Multiplicadores Solares 

Era almoço de domingo na Aldeia Sawré Muybu e, enquanto me deliciava com a comida preparada pelos voluntários, ouvi uma música familiar. Era do filme Ao mestre, com carinho, dos anos 1960. Mal me lembro da história, mas a música sempre me faz chorar. 

Eu mastigava lentamente, tentando impedir que meu olho lacrimejasse. Veio à minha cabeça um turbilhão de pensamentos sobre minha semana, vivendo com os Munduruku e gente do mundo todo que se uniu a uma luta tão importante.

Há alguns meses, deparei-me com o desafio de trazer os Multiplicadores Solares para o coração da Amazônia. O objetivo era acompanhar as instalações dos sistemas de energia solar que o Greenpeace instalou nas aldeias Sawre Muybu e Dace Watpu. Vieram comigo o Endell Menezes, de Belém do Pará, e a Fernanda Arins, de Joinville (SC). Ambos são professores que, mais do que conhecimento sobre energia solar, trouxeram na bagagem muito amor para compartilhar com o povo Munduruku.

Nas aldeias Munduruku, aprendemos que as crianças cuidam umas das outras. E, durante as atividades dos Multiplicadores, vimos como elas adoram desenhar com preciosismo suas aldeias – agora com placa solar!

image

Mulheres e homens jovens dedicaram um pouco do seu tempo para construir suas próprias lanternas solares. Na manhã seguinte, depois de verem que “estavam prestando”, deixaram-nas o dia todo carregando sob o Sol. Nos impressionou o talento e a habilidade das mulheres que fizeram artesanatos e utilizaram materiais recicláveis para montar brinquedos solares. Era tudo tão bonito que nem precisávamos colocar a placa solar para fazer o motor rodar, como alguns deles enfatizaram.

Sem medo ou preguiça de colocar a mão na massa, alguns meninos nos ajudaram a produzir lanternas extras, que levamos a outra aldeia. Eles explicaram aos colegas: “Não é para ganhar a lanterna, é para aprender a fazer”.

image

Durante as oficinas, todos estavam atenciosos e tranquilos, trocando experiências e conhecimento entre si – de uma forma que deixamos de fazer há muito tempo. Os Munduruku mostraram muita curiosidade e vontade de saber tudo sobre o que ainda não conhecem no mundo. Já os Multiplicadores Solares mostraram tanta concentração e confiança que os resultados dessa interação já estão acontecendo na aldeia.

Fora das quatro paredes de nossas escolas há tanta sabedoria e tanto mistério sendo decifrado! Jamais seremos capazes de entender tudo isso em uma pesquisa de mestrado e doutorado. Quanto da nossa educação deixamos de lado quando ignoramos os ensinamentos que só a experiência, respeito e conhecimento da diversidade podem trazer?

image

Uma menina de aldeia Dace Watpu me explicou porque não queria a construção da Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. E isso me valeu mais do que qualquer argumento de relatório para entender a importância da demarcação da Terra Indígena dos Munduruku.

Hoje, acordei acreditando e confiando em todas as pessoas. Nas que lideram a campanha do Greenpeace, nas que depositam sua confiança nessa organização, nos quase 1 milhão de pessoas do mundo todo que já assinaram a petição para protegermos o coração da Amazônia. 

Acordei agradecendo, especialmente, os Munduruku e os Multiplicadores Solares por me mostrarem que estamos nesse mundo para compartilhar experiências. E para encontrar professores, ser professores em todos os cantos e valorizar todas as trocas que temos oportunidades de fazer. 

Vim ao coração da Amazônia. E graças aos mestres espalhados por aqui, aprendi que a Amazônia cabe inteira dentro do meu coração.

Junte-se à luta do povo Munduruku. Assine a petição! 

Tapajós SalveOTapajós Vida Na Aldeia Amazônia Amazon Rainforest Floresta Desmatamento Zero Greenpeace Ativistas Munduruku Indigenous People Povos Indígenas Povo Munduruku Sawré Muybu

Um trabalho de beija-flor

Por Stefan, ativista, de Sawré Muybu

image

Eu andava bem sonolento, antes das cinco da manhã quando, por trás do bananal, avistei um beija-flor. Ele bebia o néctar das flores do pé de banana. Para um cara como eu, acostumado a avistar apenas pardais e pombos, foi uma visão incomum. O pássaro me lembrou de uma fábula africana que ouvi uma vez:

“Um dia, durante um grande incêndio na floresta, os animais estavam todos assustados, sem saber o que fazer para conter as labaredas que queimavam tudo ao redor. Eles conversavam e só conseguiam pensar em planos que não funcionariam. Até que avistaram um beija-flor. Ele voava até um lago próximo, sugava algumas gotas de água em seu bico e levava até o meio do incêndio. O elefante zombou do beija-flor e disse:

– Você acha mesmo que vai acabar com esse fogo todo com apenas algumas gotas de água que cabem no seu bico?

O beija-flor, então, respondeu:

– Não vou. Mas ao menos, eu faço a minha parte”

A função do beija-flor no meio desse incêndio era a de persuadir os outros para que também agissem e fizessem sua parte. Só aí, o rinoceronte poderia cavar trincheiras para conter o fogo, o elefante poderia jorrar litros e litros de água de sua tromba.

Aqui, na aldeia de Sawré Muybu, no meio do Rio Tapajós, vejo que os Munduruku precisam do apoio de milhares de pessoas para conter a construção da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Nem o Greenpeace poderia fazer isso apenas com nossos ativistas.

Mesmo que tentasse, esse beija-flor que vi bebendo o néctar da flor de banana não poderia drenar a água que um dia pode alagar a Terra Indígena dos índios munduruku. É por isso que estamos juntos nessa luta. É somente juntos que podemos salvar o rio Tapajós e o coração da Amazônia.

*
Infelizmente, o beija-flor tinha partido quando voltei com minha câmera para fotografá-lo. Talvez eu tenha sido um pouco desajeitado me meu percurso às cinco da manhã…

Junte-se à luta do povo Munduruku. Assine a petição!

tapajos amazonia amazon rio river Munduruku Indigenas indios indigenous people hummingbird beijaflor São Luiz do tapajós sawrémuybu

Pinturas corporais

Por Juliana Costta, analista de redes sociais, Sawré Muybu

Estou aqui há alguns dias já, aprendendo um pouco mais a cada contato com o povo Munduruku e todas as noites os Mundurukus jovens nos pintam com tinta de Jenipapo. Conversando com uma das jovens, ela me disse que o processo para a fazer a tinta é simples: ralar o Jenipapo e depois espremer para sair o líquido preto. Enquanto ela me contava esse processo, também me mostrava sua mão preta de espremer a fruta. 

Para fazer o desenho é utilizado um talo bem fino de folha de palmeira, conforme a ponta do talo fica mole, ele é arrancado no dente e pintura segue seu ritmo. Cada desenho tem um significado, até agora sei reconhecer alguns: escama de peixe, Buriti, palheiro, onça das mulheres e por aí vai.

image

*A pintura que estou olhando é do Buriti e a pintura no punho é açaí. 

São nesses pequenos momentos do dia a dia que penso na loucura que é o plano do governo de construir uma hidrelétrica aqui perto da Sawré Muybu. Se essa hidrelétrica for construída, esse povo será afetado e toda essa cultura milenar se perderá. Eu não posso deixar que isso aconteça e espero que você, assim como eu, se solidarize com a luta do povo Munduruku. 

Assine a petição! Vamos juntos impedir a construção da hidrelétrica em São Luiz do Tapajós e exigir a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu

corporal milenar munduruku cultura Sawré Muybu pintura amazônia amazon floresta forest

Uma semana em terras Munduruku

Rômulo Batista, da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, de Sawré Maybu

Há uma semana eu retornei pela segunda vez à aldeia Sawré Maybu, do povo Munduruku, do médio Tapajós (PA). Sou biólogo e, quando cheguei à Amazônia 12 anos atrás, vim para trabalhar em um projeto de criação de Unidades de Conservação. Era o que costumeiramente se chama de eco-xiita. Não acreditava que a conservação e o uso dos recursos naturais por populações tradicionais poderiam acontecer. E não poderia estar mais errado.

Durante essa semana aqui na aldeia, tive a oportunidade de participar do mapeamento da região da Terra Indígena Sawré Maybu e visitar a floresta com os Munduruku. Isso me mostrou o quanto eu sentia falta de estar dentro da floresta, do seu cheiro, da umidade, dos rios, dos lagos e igarapés, dos animais e seus vestígios. E, quando logo na minha primeira trilha tomei uma surra de kaba (picada de várias vespas), percebi que até disso eu sentia saudade.

image

A floresta conservada pelos Munduruku, e de onde eles tiram seu sustento, é linda. Não é necessário caminhar mais de 15 minutos da aldeia, para começarmos avistar árvores enormes como amapás, solvas, castanheiras e dezenas de palmeiras. Todas elas têm um uso, seja para a alimentação, seja para construção de casas dos indígenas e até mesmo na obtenção de remédios.

Ainda na beira da floresta ao lado dos roçados (plantações de mandioca para fazer farinha), é possível avistar rastro de pacas, urú e nhambú. Ao caminhar mais para dentro da mata, em 30 minutos, é possível ver que a variedade de rastros aumenta – tanto na quantidade quanto no tamanho dos animais. Por ali, sei que passaram veados, pacas, cotias, catitus, queixadas e outros mais.

Existem estudos que datam a presença dos Munduruku nas florestas do rio Tapajós há mais de 10 mil anos. Encontrar essa mata tão conservada e cheia de vida me enche de alegria. E de esperança para que essa Terra Indígena seja
demarcada e homologada, impedindo assim a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós. Se sair do papel, ela irá destruir essa floresta e irá tirar dela o povo que a usa e a conserva tão bem.

image

Nunca estive tão feliz por estar errado lá naqueles 12 anos atrás. A Amazônia, seus povos e suas florestas continuam a me encantar e a me dar lições de vida!

Sawe!

Assine a petição e junte-se à luta do povo Munduruku

tapajós munduruku terra indigena amazonia sawe hidrelétrica governo floresta forest amazon pacas uru experiencia sawrémuybu